segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Perguntas frequentes.



1. O que são os direitos dos animais?


Defender os direitos dos animais não é mais do que defender que seja oferecida aos animais uma protecção idêntica à que é oferecida aos humanos pelos direitos humanos. Tal não significa que os animais devam ter os mesmos direitos que os humanos, significa apenas que os animais devem ter alguns direitos básicos, como o direito a não serem tratados como recursos que os humanos possam utilizar a seu bel-prazer.
Defender os direitos dos animais é defender que os animais têm um valor intrínseco e merecem ser respeitados como indivíduos únicos que são, independentemente de gostarmos deles ou não, independentemente de isso ser proveitoso para nós ou não. Quem defende os direitos humanos, defende o valor intrínseco de cada humano e condena a escravatura humana ou qualquer outra forma de exploração dos humanos. Da mesma forma, quem defende os direitos dos animais, defende o valor intrínseco de cada animal e opõe-se a toda e qualquer forma de exploração dos animais.


2. Porque devem os animais ter direitos?


Os direitos dos animais justificam-se na medida em que os animais são, em muitos aspectos fundamentais, idênticos aos humanos. Na verdade, qualquer pessoa que conviva de perto com um animal pode constatar a complexidade do seu lado psicológico e como cada animal tem uma personalidade única.
A ciência começou a dar razão a quem reconhece direitos aos animais com as descobertas de Darwin, no século XIX, quando este afirmou que os humanos partilham a sua ascendência com os primatas, não sendo resultado de nenhuma criação especial (que chatice ) como até então se acreditava. A diferença entre os humanos e outros animais é apenas uma diferença de grau (tendo havido maior evolução nos humanos) e não uma diferença de natureza.
Hoje em dia, é consensual que muitos animais são seres conscientes da dor e do prazer, seres que se podem alegrar ou entristecer, seres com memória do passado e com capacidade de antecipar o futuro, seres que aprendem, seres com uma vida própria que lhes pode correr melhor ou pior. Em suma, são seres que possuem as características necessárias e relevantes para merecerem o nosso respeito.


3. Não têm os humanos capacidades únicas (consciência, racionalidade, linguagem, criatividade artística, liberdade moral) que os tornam realmente superiores aos outros animais?


É possível encontrar algumas características únicas na espécie humana (o que não faz de nós "superiores", apenas "diferentes"), mas há muitos humanos que, em virtude de incapacidades, não possuem essas características, e o mesmo acontece com as crianças de tenra idade. Devemos negar direitos a esses humanos com incapacidades e utilizá-los em experiências científicas? Claro que não. É tão errado infligir sofrimento a um génio artístico como a uma pessoa com incapacidade mental — o que importa é que ambos sofrem. O mesmo é válido para os animais.
A melhor justificação que os humanos encontram para negar direitos aos animais é dizer que "nós somos humanos e eles não", mas isso não é diferente de dizer "nós somos brancos e eles não", "nós somos homens e elas são mulheres" ou "nós somos 'normais' e eles são homossexuais". Se quisermos realmente tratar os outros animais de forma justa, temos de nos livrar dos preconceitos que a sociedade nos incute, pois onde há preconceito não pode haver justiça.


4. Os direitos não exigem deveres? Como podem os animais ter direitos, se não têm deveres?


Os bebés humanos não têm deveres, mas daí não se deduz que os possamos maltratar. As pessoas com deficiências mentais profundas não têm deveres, mas daí não se deduz que as possamos utilizar em experiências científicas. Do mesmo modo, o facto de os animais não terem deveres é irrelevante para a discussão sobre os seus direitos.


5. Qual a diferença entre direitos dos animais e bem-estar animal?


A maioria das pessoas confunde os conceitos de bem-estar animal e direitos dos animais, mas os conceitos são muito distintos.
A política de bem-estar animal diz que não há nada de errado em utilizar os animais e que a nossa única responsabilidade é não os tratar de forma cruel. Como tal, segundo esse ponto de vista, podemos continuar a criar, explorar e matar os animais para o que bem entendermos, desde que o façamos de forma "humana". Em teoria, toda a gente defende o bem-estar animal, a começar por aqueles que os exploram, porque isso é bom para o negócio. Na prática, enquanto os animais forem tratados como recursos substituíveis, não haverá legislação de bem-estar animal que lhes valha. A verdade é que, apesar de toda a legislação de bem-estar animal, hoje há, de longe, muitos mais animais a sofrer e das piores formas imagináveis do que alguma vez houve na História, com tendência de aumento exponencial a cada ano que passa.
A filosofia dos direitos dos animais, por outro lado, defende que os animais não devem ser utilizados como recursos dos humanos. Os animais valem por si mesmos e não pelo valor instrumental que possam ter para nós. Quem defende os direitos dos animais não defende reformas na forma como estes são explorados, mas sim a abolição dessa exploração, começando por aplicar essa fiolosofia abolicionista na sua própria vida. Tal como o movimento pela abolição da escravatura não pedia que os escravos fossem explorados de forma mais "humana", também o movimento pelos direitos dos animais não pede jaulas maiores, mas sim jaulas vazias.


6. Acho bem que se respeitem os animais, mas radicalismos e fundamentalismos não podem ser bons.


Defender os direitos dos animais não é ser fundamentalista, antes pelo contrário. Defender os direitos dos animais é aplicar nas nossas vidas o princípio da não-violência e respeitar os outros (humanos e não-humanos) como seres únicos e merecedores de respeito que são.
Claro que há muitos defensores dos direitos dos animais (ou supostos defensores dos direitos dos animais) que são arrogantes e se julgam os donos da verdade, mas isso não é um problema da filosofia dos direitos dos animais, é um problema dessas pessoas. Nós defendemos que é importante ser-se tolerante para com quem pensa de forma diferente. Afinal de contas, quase todos nós já estivemos do outro lado, também comíamos animais e também contribuíamos para a sua exploração sem colocar sequer a hipótese de que isso pudesse estar errado.
De qualquer forma, "radicais", "extremistas", "fundamentalistas" ou a forma mais condescendente, "maluquinhos dos animais", são apenas desculpas que as pessoas arranjam para ignorar a mensagem, atacando os mensageiros. Obviamente, ser radical não é necessariamente mau. A violação de uma mulher é um bocadinho má, bastante má ou completamente má? A nós parece-nos completamente má. Isso faz de nós radicais? Provavelmente quem tem um problema é quem acha que a violação não é completamente má. Quando algo é completamente errado, devemos opor-nos em absoluto, não apenas em parte. Se a exploração de animais sencientes é completamente má, o justo é opormo-nos a ela em absoluto.


7. Onde traçar o risco? Os insectos também têm direitos? E as plantas?


É difícil saber exactamente onde traçar o risco, mas é fácil perceber que a maioria dos animais que utilizamos na indústria alimentar, para vestuário, para experimentação ou para nos divertirmos, estão do lado dos seres que merecem ser respeitados. O facto de termos dúvidas se alguns animais devem ou não ter direitos, não nos retira a obrigação de respeitar aqueles relativamente aos quais não há dúvidas.
Apesar de os insectos também serem animais, a complexidade neurológica de um insecto e de uma vaca, por exemplo, são muito distintas. É evidente que os insectos sentem e reagem, mas nada sugere que consigam experimentar dor consciente. Entre sentir e sentir conscientemente vai uma longa distância, o que faz toda a diferença do ponto de vista moral. Isto não quer dizer que seja correcto ferir ou matar insectos desnecessariamente. Se houver uma forma trivial de evitar causar algum "mal" a insectos, devemos procurar fazê-lo.
Quanto às plantas, a resposta é tão óbvia que é quase desnecessária. O argumento (se é que se pode chamar a isso argumento ) é que as plantas também são seres vivos e, por conseguinte, também sofrem. Claro que as plantas são seres vivos (como também o são as bactérias e outros organismos unicelulares, por exemplo), mas ninguém defende que ser-se um «ser vivo» seja condição suficiente para se ter a capacidade de sofrer — para um ser sofrer é necessário que tenha uma mente e um sistema nervoso.


8. O que implica respeitar os direitos dos animais? É preciso ser-se vegetariano?


Respeitar os direitos dos animais não implica necessariamente ajudar os animais. Da mesma forma que não temos de ajudar as pessoas sem-abrigo, também não temos de ajudar os animais que vemos abandonados na rua, por exemplo. O que respeitar os animais significa, no mínimo, é não contribuir para o seu sofrimento nem para a sua exploração.
Respeitar os direitos dos animais significa que devemos adoptar uma dieta vegetariana, evitar comprar produtos que tenham resultado da exploração de animais e não participar em actividades que contribuam para a exploração de animais.


9. Mas não é impossível viver uma vida 100% livre de crueldade animal?


Sim, infelizmente, é impossível viver uma vida 100% livre de crueldade animal. Os produtos de origem animal estão em todo o lado e é virtualmente impossível evitá-los a todos. Neste contexto, o importante é evitar todos os produtos que podemos evitar e que contribuem de alguma forma significativa para o sofrimento de animais.
Evitar comprar alguma coisa apenas porque contém uma quantidade ínfima de um produto de origem animal (por exemplo, não comprar uma margarina, porque contém algumas microgramas de vitamina D3) não é necessário por dois motivos. Em primeiro lugar, esses produtos tratam-se normalmente de sub-produtos da indústria de exploração dos animais e irão desaparecer assim que a indústria perder a expressão que tem actualmente. Em segundo lugar, evitar esses sub-produtos não tem significado em termos de sofrimento animal evitado e, quando nos focamos neles, apenas transmitimos a ideia de que o vegetarianismo ético procura alguma espécie de "pureza" que é impossível de atingir para o comum dos mortais — o que é contraproducente, pois ao invés de promover o vegetarianismo, coloca obstáculos à sua adopção generalizada.


10. O que é o vegetarianismo ético?


O vegetarianismo ético é uma dieta baseada em vegetais, que exclui os animais e os produtos de origem animal. Diz-se ético, porque não é motivado por questões de gosto (costuma dizer-se que os vegetarianos não gostam de carne, o que não é rigoroso) nem por questões de saúde (embora nos devamos obviamente preocupar com a saúde). O vegetarianismo ético é motivado pelo respeito pelos animais e/ou por questões ambientais que afectam os direitos dos humanos e não-humanos que habitam este planeta.
O objectivo de um vegetariano ético deve ser adoptar uma dieta estritamente vegetariana (ou vegana) excluindo da sua alimentação, para além da carne e do peixe, os ovos e os lacticínios. A indústria de produção de ovos e lacticínios acaba por causar mais sofrimento aos animais do que a produção de carne. Causa mais sofrimento, porque, no caso dos lacticínios e dos ovos, os animais vivem (miseravelmente) durante mais tempo antes de serem também eles abatidos e comidos.
Apesar de o vegetarianismo estrito ser a atitude mais coerente a tomar, a maioria dos vegetarianos abandonou primeiro a carne e o peixe e só passado bastante tempo deixou por completo os lacticínios e/ou os ovos. O importante é reduzir progressivamente o consumo de produtos de origem animal e não cair no erro de pensar que só a carne e o peixe é que são condenáveis. Muito provavelmente, há mais sofrimento num copo de leite do que num bife.


11. Ajudar os animais pressupõe tornar-me vegetariana/o?


A primeira coisa a fazer para ajudar os animais é começar por não os prejudicar, directa ou indirectamente. Tal como não faz sentido que alguém faça voluntariado para ajudar as pessoas sem-abrigo e em simultâneo colabore com uma rede de tráfico humano, também não faz sentido que alguém se diga defensor dos animas e continue a comê-los ou a contribuir de outra forma para a sua exploração ou o seu sofrimento.
Infelizmente, este tipo de incoerência clamorosa é muito comum e quase todos nós já passámos por ela — na altura em que pensávamos (mas não muito ) que comer animais era perfeitamente justificável. Na verdade, não temos nenhuma necessidade de comer animais, fazê-mo-lo apenas por uma questão de paladar — porque isso nos dá prazer — ou por uma questão de hábito/comodismo. Contudo, estes motivos não são de forma nenhuma justificações válidas para explorar os outros animais.
A forma mais fácil e eficaz de que cada um de nós dispõe para minorar o sofrimento dos animais é não os comer. A indústria alimentar de exploração dos animais é, de longe, a maior causa de sofrimento animal a nível mundial. São muitos mais os animais a sofrer e a sofrer mais ao longo da sua vida do que em qualquer outra indústria ou actividade.
Está nas nossas mãos, aqui e agora, aplicar nas nossas vidas os princípios que dizemos defender, adoptando uma dieta vegetariana e contribuindo para um mundo mais justo e pacífico. Adoptar o vegetarianismo ético não se trata de ajudar os animais, trata-se simplesmente de respeitá-los.


12. Em vez de falar em vegetarianismo, não devemos antes pedir que os animais na indústria alimentar sejam tratados condignamente?


Há dois problemas com esta visão. Por um lado, sugere que não há nenhum problema em continuar a criar, explorar e matar os animais, desde que o façamos com um mínimo de sofrimento para os animais. Na nossa opinião, a exploração dos animais é injustificável em si mesma, independentemente da forma como fazemos essa exploração e por mais que tentemos adornar a imagem.
Por outro lado, esta visão sugere que é possível continuar a explorar os animais (ou, mais precisamente, a explorar cada vez mais animais, já que esta indústria tem tido um crescimento exponencial) sem lhes causar grande sofrimento, o que é completamente ingénuo (algo que os anglo-saxónicos apelidam de wishful thinking).
Segundo um relatório da ONU, prevê-se que tanto a produção de carne como a produção de leite dupliquem pelo ano 2050 (relativamente aos valores de 2000). A produção de carne aumentará de 229 milhões de toneladas para 465 milhões de toneladas, enquanto que a produção de leite aumentará de 580 milhões de toneladas para 1043 milhões de toneladas. Isto traduz-se em muitos mais milhões de animais a viverem vidas de sofrimento constante.
A esperança seria alguma eventual legislação de bem-estar animal que obrigasse a indústria a tratar os animais condignamente. Mas é mais provável as galinhas ganharem dentes do que isso acontecer. A indústria de exploração dos animais é uma indústria poderosíssima com um lóbi a condizer. Esse lóbi tem força mais do que suficiente para impedir qualquer medida legislativa que se pudesse traduzir numa melhoria significativa no bem-estar dos animais (oferecer bem-estar aos animais custa dinheiro). O que se verifica na prática é que as leis de bem-estar animal só são aprovadas quando não há oposição da indústria alimentar. As melhorias que se vão conseguindo através de legislação eliminam algumas práticas de crueldade mais gritante, mas a vida dos animais continua a ser um inferno. Nos EUA e no Reino Unido, por exemplo, onde já há legislação de bem-estar animal há mais de um século, cada vez há mais animais a sofrer e das piores formas possíveis.
Ninguém vai proteger por nós os animais utilizados na indústria alimentar. Esses animais são apenas recursos descartáveis numa indústria que nunca será uma indústria compassiva. Para a indústria alimentar, o único valor dos animais é o seu valor comercial, o qual é insignificante face aos custos de funcionamento e ao valor das instalações. Mesmo para quem defenda apenas o bem-estar animal e não os direitos dos animais, o vegetarianismo ético constitui o único meio realmente eficaz de poupar sofrimento aos animais da indústria alimentar.


13. A dieta vegetariana é saudável? Não são os humanos omnívoros?


Os humanos são animais omnívoros, mas têm características fisiológicas muito mais próximas dos animais herbívoros do que dos carnívoros. Ser omnívoro não significa que se tenha de comer carne ou outros produtos de origem animal, significa apenas que conseguimos digerir esses alimentos. Os produtos de origem animal não só não são necessários para uma dieta equilibrada, como têm muitos efeitos nocivos para a saúde humana.
Mas não há vários nutricionistas que dizem que é preciso comer carne/peixe/beber leite?
Sim, há, mas estão a precisar de actualizar os seus conhecimentos (se calhar, ainda não os actualizaram desde que saíram da faculdade ). A posição da Associação Americana de Nutrição e da associação Nutricionistas do Canadá é que «uma dieta estritamente vegetariana (vegana) e outros tipos de dietas vegetarianas bem planeadas são apropriadas para todas as fases da vida, incluindo gravidez, aleitamento, primeira infância, infância, e adolescência» e que «as dietas vegetarianas oferecem diversas vantagens nutricionais».
Claro que a dieta vegetariana não é nenhuma dieta milagrosa que cure ou previna todas as doenças e nos faça viver até aos 120 anos — como alguns vegetarianos bem-intencionados, mas demasiado entusiastas, nos parecem querer sugerir. Como em qualquer outra dieta, é preciso um planeamento adequado para se conseguir uma nutrição equilibrada. Na verdade, numa dieta estritamente vegetariana, é preciso um planeamento mais cuidadoso do que numa dieta omnívora. Porém, a recompensa desse "esforço" é sabermos que estamos a contribuir decisivamente para termos uma saúde melhor e um planeta mais sustentável, ao mesmo tempo que aplicamos efectivamente na nossa vida o princípio do respeito pelos outros animais.


14. Adoptar uma dieta vegetariana não é negar a evolução natural dos humanos, apenas conseguida porque no passado nos alimentámos de carne?


Não colocando em causa a necessidade que os humanos possam ter tido de se alimentar de carne em tempos passados, hoje em dia não há nenhuma necessidade de continuarmos a fazê-lo, antes pelo contrário. Adoptar uma dieta vegetariana é continuar a evoluir. Por um lado, evoluir em direcção a uma sociedade mais justa e pacífica, onde seja dado aos animais não-humanos o respeito que eles merecem. E, por outro lado, evoluir em direcção a um planeta mais sustentável, onde seja possível alimentar mais pessoas, ao mesmo tempo que se reduzem os fortes impactos negativos no ambiente resultantes da criação de animais para consumo humano.


15. Os humanos estão no topo da cadeia alimentar e, como tal, não devemos nós ter uma dieta omnívora?


Ninguém nega que os humanos têm capacidade para dominar os outros animais. Mas uma coisa é ter poder, outra coisa muito distinta é ter razão. O facto de uma pessoa conseguir subjugar outra pessoa mais fraca do que ela não lhe dá o direito de o fazer. Do mesmo modo, o poder que nós temos sobre os outros animais não nos confere o direito de os comer ou explorar.


16. Se os animais se comem uns aos outros, porque não devemos nós comê-los a eles?


Esta questão é engraçada, porque aquilo que os animais não-humanos fazem é normalmente dado como exemplo daquilo que os humanos se devem abster de fazer (já que somos supostamente superiores). Contudo, quando nos convém, invertemos rapidamente os papéis para tentar arranjar alguma desculpa.
A verdade é que aquilo que os outros fazem (sejam humanos ou não-humanos) não serve de justificação para as nossas acções — a menos que ainda estejamos na escola primária.
Para os animais que comem outros animais não existe nenhuma escolha moral subjacente a essa acção. No entanto, nós, humanos, temos a capacidade e o poder para escolher moralmente. E se nós podemos escolher não causar sofrimento, e ainda assim escolhemos causar sofrimento, será que não há nada de errado nisso?


17. Qual a relação da dieta vegetariana com o ambiente? E com o problema da fome?


A dieta vegetariana é uma dieta muito mais eficiente em termos energéticos e em termos de poupança de recursos naturais do que a dieta omnívora. Tal facto explica-se muito facilmente: ao comermos animais, estamos a comer indirectamente os vegetais de que esses animais se alimentaram. Se comermos directamente os vegetais, o processo é várias vezes mais eficiente.
Com idênticos recursos naturais, podemos alimentar muitas mais pessoas com uma dieta vegetariana do que com uma dieta omnívora. O vegetarianismo não vai resolver o problema da fome no mundo, mas é seguramente um passo na direcção certa.
No que concerne ao ambiente, uma dieta vegetariana contribui para minorar diversos problemas muito graves, nomeadamente o aquecimento global e a desflorestação (a principal causa de ambos é a criação de animais para alimentação), a falta de água potável (quase 1/10 de toda a água potável utilizada pelo homem a nível mundial é utilizada para criação de animais para alimentação) e a poluição (uma das principais, senão a principal causa de poluição dos recursos hídricos é também a criação de animais para alimentação).


18. Se todos nos tornarmos vegetarianos, não irá isso conduzir à extinção dos animais actualmente criados para consumo humano?


A verificar-se algum dia que toda a população humana do planeta era vegetariana, tal não implicaria de modo nenhum a extinção das espécies animais actualmente criadas para consumo humano. Esses animais poderiam perfeitamente continuar a existir em santuários ou reservas naturais. Na verdade, hoje em dia, muitos porcos, vacas, galinhas, perus e outros animais resgatados de situações de abandono ou crueldade já vivem em santuários.


19. Não devíamos nós combater problemas mais graves, como as crianças que morrem de fome, em vez de nos preocuparmos com os animais?


O facto de existirem problemas mais graves do que outros não é de forma nenhuma desculpa para ignorarmos os problemas menos graves.
O que é mais importante? O problema da fome extrema em África ou o problema da perda de poder de compra dos trabalhadores? Seguramente, o problema da fome extrema é mais grave, mas significa isso que devemos deixar de lutar por aumentos salariais justos para as classes mais desfavorecidas? Claro que não. Do mesmo modo, podemos respeitar os direitos dos animais ao mesmo tempo que ajudamos a combater outros problemas, sejam eles mais ou menos graves.
É engraçado que não se ouve ninguém perguntar "porque gastas tanto dinheiro para ver jogos de futebol quando podias ajudar as crianças que morrem de fome?" ou "porque passas o tempo a ver televisão quando podias fazer voluntariado para ajudar pessoas necessitadas?". Ninguém critica essas pessoas, porque elas não incomodam a consciência de ninguém. Paradoxalmente, são aqueles que fazem alguma coisa por uma mudança na sociedade que são sempre alvo destas críticas — e quem faz as críticas são normalmente os mais comodistas da sociedade.


20. Os cães e os gatos que mantemos em nossas casas também devem ser tornados vegetarianos?


É indiscutível que alimentar animais carnívoros à base de carne contribui para o sofrimento de outros animais. No entanto, não podemos dar uma alimentação vegetariana a um animal carnívoro de forma leviana, pois poderemos estar a provocar-lhe graves danos na saúde (no caso dos cães, já existem algumas rações vegetarianas de boa qualidade, sendo portanto uma alternativa recomendável às rações à base de carne; contudo, no caso dos gatos, não parece existir ainda nenhuma ração vegetariana que garanta uma nutrição adequada).
É importante ter em conta que os animais carnívoros não têm escolha, mas nós temos. Na natureza, o cão ou o gato iriam ser predadores e matar naturalmente outros animais para se alimentarem. Muitas pessoas parecem preocupar-se mais com aquilo que os seus animais comem do que com aquilo que elas próprias comem, o que é apenas uma tentativa de arranjar alguma desculpa para ignorar o vegetarianismo.


21. Se o vegetarianismo é tão justo e tão bom, porque há tão poucos vegetarianos?
É verdade que no ocidente a percentagem de vegetarianos é bastante reduzida e, em Portugal em particular, essa percentagem é pouco significativa. Contudo, também é verdade que o número de vegetarianos só tem tendência para crescer e que é essa a tendência que se tem verificado nos últimos anos nos países mais desenvolvidos.
Para começar, há poucos vegetarianos, porque nesta sociedade comer animais é a coisa mais natural do mundo e não há sequer espaço para pensarmos na ética das nossas relações com os outros animais. Claro que se nunca pensarmos nisso, não nos iremos tornar vegetarianos.
Quando finalmente tomamos contacto com a questão do vegetarianismo ético, a maior parte de nós consegue aperceber-se facilmente da incoerência que há entre dizer respeitar os animais e continuar a comê-los (a provocar-lhes sofrimento desnecessário). No entanto, para a maioria das pessoas, isso não é suficiente para se tornarem vegetarianas, e o motivo é muito simples: não têm força de vontade para fazer uma mudança na sua vida (o comodismo ou a pressão de grupo falam mais alto).
Toda a gente pode ser contra a fome em África, pois isso não tem implicação absolutamente nenhuma na nossa vida. Até podemos passar um cheque mensal a uma organização que lute contra a subnutrição, mas isso não implica nenhuma mudança na nossa vida (para além de ficarmos com um pouco menos de dinheiro ). Ser vegetariana/o, por outro lado, implica uma mudança diária na nossa vida, não é um assunto em que basta dizer "eu concordo" ou "eu vou passar um cheque", é preciso realmente aplicar na nossa vida os princípios que dizemos defender.
Normalmente, as dificuldades começam quando nos apercebemos que temos de alterar a nossa rotina (e a nossa rotina é tão boa ). O que vou comer? Onde vou comer? Vou ter de fazer a minha comida? E quando sair com os amigos? Será que vou ser excluída/o de alguns eventos sociais? À medida que as perguntas se acumulam, a saída mais fácil é tentar racionalizar qualquer desculpa para não fazer coisa nenhuma e deixar a inércia vencer. Afinal, a dieta omnívora apresenta normalmente duas grandes vantagens: foi essa a dieta a que fomos habituados deste pequenos, e é essa a dieta dos nossos familiares e amigos.
No entanto, se a nossa consciência nos disser que devemos optar pelo vegetarianismo, isso é tudo o que precisamos. Com o passar do tempo veremos como é fácil ser vegetariano e, se o nosso testemunho do vegetarianismo for coerente e compreensivo, os nossos familiares e amigos respeitarão naturalmente a nossa opção.


22. Se o vegetarianismo é tão justo e tão bom, porque há tão poucos vegetarianos?


É verdade que no ocidente a percentagem de vegetarianos é bastante reduzida e, em Portugal em particular, essa percentagem é pouco significativa. Contudo, também é verdade que o número de vegetarianos só tem tendência para crescer e que é essa a tendência que se tem verificado nos últimos anos nos países mais desenvolvidos.
Para começar, há poucos vegetarianos, porque nesta sociedade comer animais é a coisa mais natural do mundo e não há sequer espaço para pensarmos na ética das nossas relações com os outros animais. Claro que se nunca pensarmos nisso, não nos iremos tornar vegetarianos.
Quando finalmente tomamos contacto com a questão do vegetarianismo ético, a maior parte de nós consegue aperceber-se facilmente da incoerência que há entre dizer respeitar os animais e continuar a comê-los (a provocar-lhes sofrimento desnecessário). No entanto, para a maioria das pessoas, isso não é suficiente para se tornarem vegetarianas, e o motivo é muito simples: não têm força de vontade para fazer uma mudança na sua vida (o comodismo ou a pressão de grupo falam mais alto).
Toda a gente pode ser contra a fome em África, pois isso não tem implicação absolutamente nenhuma na nossa vida. Até podemos passar um cheque mensal a uma organização que lute contra a subnutrição, mas isso não implica nenhuma mudança na nossa vida (para além de ficarmos com um pouco menos de dinheiro ). Ser vegetariana/o, por outro lado, implica uma mudança diária na nossa vida, não é um assunto em que basta dizer "eu concordo" ou "eu vou passar um cheque", é preciso realmente aplicar na nossa vida os princípios que dizemos defender.
Normalmente, as dificuldades começam quando nos apercebemos que temos de alterar a nossa rotina (e a nossa rotina é tão boa ). O que vou comer? Onde vou comer? Vou ter de fazer a minha comida? E quando sair com os amigos? Será que vou ser excluída/o de alguns eventos sociais? À medida que as perguntas se acumulam, a saída mais fácil é tentar racionalizar qualquer desculpa para não fazer coisa nenhuma e deixar a inércia vencer. Afinal, a dieta omnívora apresenta normalmente duas grandes vantagens: foi essa a dieta a que fomos habituados deste pequenos, e é essa a dieta dos nossos familiares e amigos.
No entanto, se a nossa consciência nos disser que devemos optar pelo vegetarianismo, isso é tudo o que precisamos. Com o passar do tempo veremos como é fácil ser vegetariano e, se o nosso testemunho do vegetarianismo for coerente e compreensivo, os nossos familiares e amigos respeitarão naturalmente a nossa opção.







2 comentários:

  1. Obrigado por partilhares toda esta informação !
    Adorei ler todo o teu blog, e não posso estar mais de acordo.
    Tornei me vegetariano apenas há 2 meses e cada dia que passa sinto me mais feliz cm a minha decisão !
    1 abraço

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  2. Bem haja por isso,só tenho que parabenizar :)

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